quinta-feira, 30 de maio de 2013

Introdução


O trabalho aborda as crenças, rituais e cerimónias e modos de enterramento em Teotihuacan e Monte Alban. Inicialmente é apresentada uma breve discrição da evolução da cidade, seguida da descrição da mesma, é das principais características de cada uma das sociedades. Inicia-se a abordagem ao tema do trabalho, começando-se com as crenças na sociedade mesoamericana. Este tópico foi abordado deste modo pois a cultura pré-hispânica mesoamericana tem uma visão da morte que abrange toda a área de um modo geral, manifestando uma grande devoção à mesma, chorando-a e comemorando-a. Esta não se trata de um fim, mas como parte de um ciclo vital como um ponto de renovação. Segue-se a descrição de alguns rituais e cerimónias funerárias, que constituíam uma constante em cada acto do ciclo de vida do homem mesoamericano, demonstrando o seu vínculo com o sagrado. Relativamente aos modos de enterramento, são abordadas primeiramente características semelhantes às duas culturas, sendo que depois se faz uma descrição dos aspectos mais específicos tanto de Teotihuacan como de Monte Alban.

Teotihuacan


Situada numa zona rica em recursos, esta cidade foi sede de poder de uma das sociedades mesoamericanas mais influentes em termos políticos, económicos, comerciais, religiosos e culturais. Esta localiza-se numa planície bem irrigada a nordeste do vale do México no actual no município de San Juan Teotihuacán, cerca de 40 km a noroeste da cidade do México, sendo reconhecida como património da humanidade pela UNESCO desde 1987.
                                                                
Pensasse que o nome tenha origem Asteca, e que tenha sido dado à cidade quando estes a encontraram despovoada cerca de 500 anos depois da sua queda. O nome significa “cidade dos deuses” ou “onde os homens se tornaram deuses”.




Evolução da Cidade
O estabelecimento em Teotihuacan e na área envolvente iniciou-se por volta de 600 a.C. com pequenos grupos agrícolas dispersos que completavam a sua alimentação com caça e pesca beneficiando do lago ai existente e situação estratégica.

Com o forte aumento populacional na bacia do México começam a estabelecer-se uma grande quantidade de assentamentos de tamanhos variados. Por volta de 200 a.C. começou então a desenvolver-se um grande centro cerimonial em Teotihuacan, sendo que grande parte das comunidades vizinhas adirem ao assentamento, e começaram a definir-se rasgos arquitectónicos.

Entre 200 e 0 a.C. são construídas as pirâmides do sol e da lua, sendo que a cidade de desenvolve segundo o eixo norte-sul verificando-se a existência de hierarquias nos espaços construídos. Desenvolve-se também o estado como organização sociopolítica. Relativamente ao comércio o mais importante era o trabalho e da obsidiana e cerâmica que se encontram em cidades afastadas do centro indicando a sua expansão comercial, 1 e A sendo certamente influenciadas através deste intercâmbio comercial com os povos da costa do golfo do México, perceptível nas pinturas murais com motivos marinhos.

De 350 a 600 d.C. é o período de maior expansão sendo que o desenvolvimento cultural na bacia do México concentra-se em Teotihuacan que se consolida como grande civilização urbana, chegando a alcançar os 20 km2 e possivelmente os 120 mil habitantes e ao redor da qual se encontravam vários assentamentos. Dão-se mudanças na vida da região, observando-se uma cada vez mais clara diferenciação social e uma forte especialização em diferentes labores como administração pública, construção, produção de alimentos e comércio a largas distâncias.
Durante os anos compreendidos entre 600 e 900 d.C. Teotihuacan sofre de uma elevada forte destabilização social. Iniciando-se o declínio e decadência da cidade, que culmina com o abandono, dos seus cerca de 120 mil habitantes ficaram 30 mil, e destruição parcial da cidade, em que edifícios foram queimados e destruídos com violência.

Descrição da cidade
A antiga de Teotihuacan possuía uma extensão de cerca de 20 km2 e atingiu no seu auge, entre 350 d.C. e 650 d.C., cerca de 120 mil habitantes. O estilo de construção foi em talude-tabuleiro, estilo que se desenvolveu e espalhou pelo território sendo adoptado em várias cidades. Este consiste na colocação de um tabuleiro seguido de um talude e outro tabuleiro novamente, assim sucessivamente, sendo utilizado dentro e fora dos edifícios. Nesta cidade encontra-se presente uma arquitectura urbana desenvolvida, possuindo acessos, mercado, escoamentos, canais de rega, casas sólidas e decoradas e casas-de-banho. Na decoração dos edifícios predominavam o branco do estuque e o vermelho, muito utilizado também na pintura mural.

A sua planificação inicial tem como base duas grandes calçadas que se cruzam e que serviram para a configuração de um sistema de ruas que percorre a cidade e o interior dos bairros. Contudo é em torno do eixo da rua principal, calçada dos mortos, que se organizam as construções da cidade, com edifícios rectangulares de linha definidas. Ao longo dos seus 2 km de comprimento e 45 m de largura podemos encontrar vários edifícios rituais e administrativos, considerados alguns palácios ou residenciais do poder estatal, e vários pátios utilizados provavelmente para cerimónias. Esta possuía ainda um sistema de drenagem.
Como estruturas importantes destaca-se a Praça Oeste, a Cidadela, o Templo de Quetzalpapálotl, Pirâmide do Sol e da Lua e o templo de Quetzalcoatl.
A cidadela, com forma quadrangular (400 metros de cada lado) era limitada por plataformas possuindo apenas uma entrada. Nesta realizavam-se cerimónias.
A pirâmide do Sol, orientada para poente, foi construída por cima de uma caverna. Tem cerca de 220 metros por 225 metros de base e actualmente cinco patamares que atingem uma altura de cerca de 63 metros. A sua construção tem como base adobe e um acabamento em pedra.
A pirâmide da lua, situada no extremo norte da calçada dos mortos, era dedicada à deusa Chalchiutlicue. Esta possui de base 150 por 130 metros, e cerca de 40 metros de altura. Segundo os indígenas esta servia também de observatório astronómico aos sacerdotes. As escadas de ambas conduziam na parte superior a templos. O templo de Quetzalcoatl é posterior às duas pirâmides a cima referidas, decorada em tons de branco, azul e vermelho, esta possui no centro umas escadas com representações de dois deuses sendo um deles Quetzalcoatl, a serpente emplumada.

Em termos habitacionais cidade organiza-se em bairros formados por conjuntos habitacionais multi-familiares, de um só piso e de planta quadrada ou em L, feita de adobe e cobertas de estuque, abertas para um pátio onde se realizam reuniões familiares e que por vezes possuía um pequeno templo para culto familiar. Não possuíam janelas mas sim um espelho de água no centro da habitação que reflectia a luz para as restantes divisões. Em algumas destas habitações foram encontrados pequenos motivos religiosos, adornos, ferramentas de obsidiana e utensílios cerâmicos. Para o período de auge foram encontrados cerca de 2000 destes complexos habitacionais.
As habitações mais perto da calçada dos mortos, residências de elites, encontrar-se-iam no centro da cidade, enquanto afastadas do mesmo as habitações de artífices e pequenos comerciantes.




Características da sociedade de Teotihuacan
Em Teotihuacan vigorava um sistema teocrático em que um conjunto de sacerdotes controlava as actividades religiosas, cerimoniais, politicas, administrativas, comerciais e manufactureiras. Não existem referências a palácios mais importantes, contudo é evidente uma organização social visível no planeamento urbano. Estes controlavam a população sem uso excessivo de armas, mas sim através da sua afirmação como representantes dos deuses.

Um elemento muito importante desta cultura são as pinturas murais. Possuíam pintores profissionais, formados em escolas, o que indica uma especialização, existindo também escultores e carpinteiros. Estes artistas gostavam de impressionar os sacerdotes com as suas pinturas, que na maioria eram por estes encomendadas, existindo várias técnicas e temas. A técnica empregada designava-se por fresco pois a pintura era emprega antes que o estuque estivesse seco, sendo que assim os pigmentos eram absorvidos pela parede.
No palácio de Tepantitla encontram-se pinturas murais, “El Paraíso de Tlaloc” onde se supões estar representado o céu, e uma montanha da qual abrotam dois rios. Várias figuras são representadas a dançar, realizando actividades como pesca, cultivo e jogando ao jogo da bola, da boca das quais saem linhas azuis que representam a fala, emissão de sons, numa paisagem de árvores, flores e borboletas. Imagens de coiotes são muito comuns assim como representações de guerreiros com cara animal. Figuras de jaguares e coiotes podem ser encontradas no Palácio de Atetelco.




No que toca à agricultura a cidade encontra-se numa região que possui nascentes permanentes que juntamente com os cursos de água oferecem a possibilidade de irrigação. Contudo mesmo com este sistema o vale de Teotihuacan não conseguiria suportar tão grande número populacional, suspeitando-se que pudessem ter existido chinampas.

Os Teotihuacanos para além do espaço dominado directamente pela cidade tinham influencia sobre uma vasta área, por todo o actual México (como Monte Alban), chegando à Guatemala (como Tikal). A sua actividade comercial, intensa, era baseada na indústria cerâmica e da obsidiana e jade, comercializadas por todo o território, assim como água-mel extraído do Manguey (planta típica do México) e roupa elaborada com fibras desta planta e de algodão.Na cidade de Teotihuacan propriamente dita vivia inclusivamente uma população cosmopolita. Grande parte das etnias regionais do México encontravam-se representadas na cidade, como os zapotecas provenientes da região de Oaxaca. Viviam em comunidades de apartamentos onde desenvolviam os seus misteres e contribuíam para o poder económico e cultural da cidade.

O comércio da obsidiana era bastante importante. A fina obsidiana esverdeada, proveniente das minas de Pachuca, era muito utilizada para produção de ferramentas para o mercado externo. Milhares de artífices produziam ainda lâminas de obsidiana, facas e pontas de dardo. Investigações arqueológicas mostram que mercadores e artificies estrangeiros se fixaram residência em Teotihuacan.

Estes fabricavam vasos, jarros e braseiros onde se queimava o copal. Os vasos típicos eram de fundo plano, cilíndricos e possuíam três pés achatados, decorados com vários motivos, sendo que também os finos vasos cor de laranja seriam outra das marcas da influência da cidade. Uma decoração típica de Teotihuacan são as 4 pétalas presentes não só em objectos como em murais. As oficinas de produção e fornos encontram-se fora do centro cerimonial.


A população de Teotihuacan possuía uma religião politeísta, cultuando cinco divindades principais:
•  Tlaloc, (deus da chuva, o supremo que dominava todas as forças da natureza, água, céu, nuvens, raios, vegetação e fauna)
•  Quetzalcóatl, ou serpente emplumada, que representava as águas terrestres: rios, lagos e mares
•  Huehuétetl, deus do vento, símbolo do fogo representado com uma cara enrugada e poucos dentes e ao qual atribuem o nascimento continuo do sol e o inicio e fim dos novos períodos de vida
•  Xipe Tótec, deus da primavera ou da vegetação, que tinha a função de oferecer ao povo toda uma variedade de flores e frutos importantes para a sua sobrevivência
•  Deus Gordo, que representava a boa sorte

Monte Alban

Situada numa zona onde o meio ambiente estabeleceu parâmetros para o desenvolvimento da cidade, Monte Alban foi, durante quase 1300 anos, o maior centro político, económico e cultural, a sede de poder dominante, da região do vale. A cidade localiza-se no Vale de Oaxaca, a 10 km a oeste da actual cidade de Oaxaca de Juáres, capital do estado mexicano com o mesmo nome. A sua localização permite o controlo de todo o vale. Em 1987 foi declarada Património Cultural da Humanidade pela Unesco.

Esta era conhecida pelos Zapotecas pelo nome de Danipaguache (montanha sagrada da vida), e posteriormente pelos Astecas por Ocelotepec (montanha do jaguar).




Evolução da cidade
Esta cidade foi fundada pelos Zapotecas em cerca de 600 a.C.. O que acontece é que nesta altura três grandes aldeias dominavam o vale, estas fizeram então uma aliança para construir o centro cerimonial de monte Alban e povoar a sua periferia, aplanando a zona. Esta foi posteriormente dividida em três bairros que corresponderiam a cada uma das aldeias.

A sua história é geralmente dividida em várias fases:
No período designado de Monte Alban I, que vai de 600 a.C. a 100 a.C., dá-se o nivelamento do topo da montanha, onde se iria localizar a parte superior da cidade e da praça principal. É neste período que se dá também a queda e apogeu da civilização Olmeca, cuja influência está presente nas construções mais antigas de Monte Alban. Nesta época é construído o edifício dos dançantes, cujas figuras que se encontram ao redor do qual, e que parecem ser de prisioneiros de guerra, têm influência Olmeca sendo representados com lábios grossos e olhos rasgados, e com capacetes que remontam para guerreiros. Também construção da estrutura para a realização do jogo da bola se iniciou nesta época. Com o aumento da população pensasse que por volta de 200 a.C. teria cerca de 5.000 habitantes.

Á fase entre 100 a.C. e 250 d.C., dá-se o nome de Monte Alban II. Neste período contínua a nivelação da praça principal, sendo que vários achados demonstram a existência de contactos com os Maias de Chiapas e Guatemala, e dá-se a construção do edifício J, que se pensa ser um observatório astronómico. Neste é demonstrada a intensa actividade militar, estando o edifício decorado com representações das conquistas militares, no qual aparece uma escrita com o símbolo de cada uma das cidades conquistadas.

Os 550 anos seguintes, até 800 d.C. designam-se de Monte Alban III. Este é o período de auge, actuando como Monte Alban um centro de integração do poder político e económico acompanhando Teotihuacan e construindo-se a maioria dos edifícios hoje encontrados. Pensa-se que a população terá atingindo uma população de cerca de 40 mil habitantes nos cerca de 20km2 perto do centro cerimonial, sendo que entre 250 d.C. e 600 d.C. notam-se influências de Teotihuacan, nas cerâmicas, decorações, túmulos e construção (talude-tabuleiro). Mais de 180 tumbas deste período foram localizadas nas encostas da grande colina de Monte Alban. Neste período desenvolve-se a parte norte da cidade, construída sobre uma plataforma, a plataforma norte.

A partir de 800 d.C. dá-se a queda gradual da cidade Zapoteca, assim como deslocamentos populacionais, sendo que a diminuição da população resultou num término da construção de edifícios monumentais. As causas do seu declínio são desconhecidas. Este período de Monte Alban IV vai durar até 1325, terminando com a chegada dos Mixtecas, que ocupam a capital. Com a queda de Monte Alban, vai dar-se o fortalecimento de certas cidades, assim como o surgimento de outras. Esta manteve-se, no entanto, com uma certa autonomia através da criação de alianças matrimoniais e actividade comercial. Mitla, a capital Mixteca, consolidou-se como centro religioso do Vale.

Em 1325 inicia-se o período de Monte Albán V, com a chegada dos Mixtecas que realizaram enterramentos em Monte Albán. Este vai durar até 1521, ano e que se dá a chegada dos conquistadores espanhóis e Monte Alban é definitivamente abandonada.



Descrição da cidade



A sua arquitectura monumental foi influenciada pelos primeiros centros urbanos dos vales centrais de Oaxaca, como San José Mogote e Dainzú, especialmente a primeira que também se organizava ao redor de uma praça central. Contudo ao contrário de San José Mogote, cujas plataformas dos edifícios eram constituídas por um só corpo, as de Monte Alban, de influência Teotihuacana, eram construídas através da sobreposição de vários corpos, as já referidas construções em talude-tabuleiro. Este tipo de construção adoptado pelos zapotecas foi adaptado dando lugar a um estilo próprio da cidade de Monte Alban, com taludes amplificados, rematados por pequenos tabuleiros.

Desenhada sobre o plano trabalhado da montanha, 400 m sobre o nível do vale, o conjunto monumental (templos e residências das elites) de Monte Alban encontra-se organizado ao redor de uma praça central com cerca de 200 por 300 metros, orientada no sentido norte-sul, enquanto as habitações de pessoas pertencentes a estratos sociais mais baixos se localizavam em terraços construídos fora do conjunto central localizado na parte mais alta da montanha, padrão de assentamento muito característicos das sociedades mesoamericanas pré-colombianas do período clássico (c. II a VIII/IX d.C.). A este e oeste da praça localizam-se os templos cerimoniais, e a norte-sul o complexo da plataforma sul e a plataforma norte, que parece ter sido o local mais importante do ponto de vista cerimonial. A localização da praça no topo do monte sugere uma estratégia defensiva, um muro de aproximadamente 2.5km foi levantado los limites norte, nordeste e noroeste da cidade possivelmente devido a conflitos. Os numerosos tuneis encontrados sob a praça principal conduzem alguns de uma extremidade de um edifício à outra, enquanto outros atravessam toda a praça principal. Os templos foram construídos em adobe sobre cimento de pedra, sendo a pintura aplicada sobre o estuque que cobria as paredes. Ao contrário de outros núcleos urbanos mesoamericanos Monte Alban possui edificações mais baixas, com fortes taludes, talvez devido à alta sismicidade dos Vales centrais de Oaxaca.
Ao centro da grande praça, encontram-se as estruturas G, H, I e J. Esta servia possivelmente para actividades cívicas, religiosas e cerimoniais, e ainda como centro de intercâmbio na qual se instalavam mercados de troca com zonas vizinhas e cheias com produtos da sua região. Contudo na cidade existiam poucas oficinas, sendo que os artesãos estavam dispersos por todo o vale, a produção não estava centralizada.

As quatro estruturas referidas são de várias épocas construtivas e apresentam dois estilos arquitectónicos diferentes. Estas quatro construções cobrem saliências naturais das rochas. As três primeiras, G, H e I, são constituídas por um só edifício que contém três plataformas com templos separados mas ligados entre si. O edifício J, chamado de "observatório", localiza-se na porção sul-central da grande praça, sendo o único com planta pentagonal, e orientação diferente das restantes (em vez de norte-sul, desvia-se para o oriente, de onde se observam 5 principais estrelas). Pensasse que se tratará de um observatório pela sua orientação e por ser parecido com o edifico P, contudo não há certezas. As lápides deste edifício encontram-se marcadas por hieróglifos que fazem referência a zonas conquistadas por Monte Alban. Cada edifício na cidade tem muros que circundam um pátio, e cada pátio um altar ou adoratório.
A plataforma sul, construída sobre uma protuberância natural, tem uma planta quadrada com 140 metros de lado, e possuía estelas nas suas esquinas, actualmente no museu do sítio. Nas estelas estão representações de homens com os pés e braços amarrados nas costas e são conhecidos como "os cativos", sendo que pode tratar-se de representações de prisioneiros. Desde a plataforma sul tem-se uma panorâmica dos vales de Monte Alban.
De destacar é o edifício L, designado de o edifício “dos Dançantes”. Este é um dos primeiros a ser construído dando informação sobre a história da cidade. É das estruturas que exibe mais actividade construtiva, apesar do seu primeiro momento restarem apenas escassos restos de uma plataforma e escadas que apareceram no túnel de exploração coberto por este edifício. O seu nome foi-lhe dado pelas 140 lápides que se encontram ao redor do edifício. Nestas estão representadas figuras que parecem movimentar-se como que dançando. Contudo das várias teorias existentes sobre o que representariam estas figuras, a mais provável parece ser que se tratariam, não de personagens dançando, mas sim de cativos mutilados e feridos. Talvez vítimas, prisioneiros de guerra (guerras pelo domínio do território) num ritual em que lhes cortam o pénis e cujo sangue era no chão despejado como oferenda aos deuses simbolizando a fertilidade. As representações têm influência Olmeca sendo representados com lábios grossos e olhos rasgados, e com capacetes que remontam para guerreiros (hierarquia da personagem representada). De planta rectangular, mede 60 metros de largura por 30 de comprimento, tendo cerca de 9 metro de altura. Sobre a plataforma existem três templos. O templo central de planta quadrada possui um pátio limitado por quatro aposentos. Os templos laterais são de menores dimensões e constam de um só quarto dividido em dois por um muro.



O edifício S, ou Palácio, é uma das várias residências pertencentes à nobreza. Este é um espaço fechado rodeado por habitações com vestíbulo e um pátio central aberto, padrão de distribuição que se generalizou em toda a cidade. No centro encontra-se um altar cerimonial, provavelmente para cerimónias privadas.

Na esquina nordeste da praça, com uma orientação norte-sul, localiza-se o campo de jogo da bola. Em Monte Alban encontram-se duas estruturas utilizadas para o Jogo da Bola, a maior e outra de menores dimensões. Relativamente à estrutura maior, a sua área central é limitada por muros de talude (ligeiramente inclinados), sendo que os muros estariam revestidos com estuque. Nesses mesmos muros levantavam-se as plataformas a partir das quais se visionava o jogo. O que observamos actualmente é resultado de sobreposições de diversos momentos construtivos, o mais antigo do período de Monte Alban II. Este possui a forma de um I, tendo o pátio central 26 metros de comprimento por 7 de largura. Os topos tinham 22 metros de largura.
Em Oaxaca as estruturas de Jogo da bola não apresentam marcadores ou arcos de pedra nos seus muros laterais. No centro da do pátio central há uma pedra circular e plana provavelmente para colocar a bola no início do jogo. O sistema construtivo foi conseguido com base num núcleo de pedra e barro revestido com pedra de forma regular e aplanada exteriormente com uma grossa capa de mistura de cal.

No que toca à plataforma norte, esta foi construída posteriormente, e a esta apenas teria acesso a elite, na qual construíram possíveis palácios onde estariam os governares e sacerdotes da cidade, e onde realizariam sacrifícios e oferendas rituais.

Fora dos limites da cidade, nas encostas das colinas, localizam-se os terraços residenciais que sustiveram casas de carácter perecível. As unidades habitacionais, albergava entre uma e três vivendas organizadas, em termos gerais, ao redor de um pátio central.

Características da sociedade
Na época pré-colombiana os zapotecas foram uma das civilizações mais importantes da Mesoamérica. Estes designavam-se a si mesmo de be’neza, que significa “povo que vem das nuvens”. Pouco se sabe da sua origem.
Pensasse que a sociedade Zapoteca seria uma sociedade teocrática, algo que é em parte perceptível pela hierarquia existente em túmulos e edifícios. Os sacerdotes dominariam e controlavam inclusive os guerreiros, sendo contudo possível que, em certo momento, estes sacerdotes teriam sido guerreiros.

Objectos como o peitoral do deus morcego que tinha um sentido simbólico de ostentação, permitindo saber, para além de informação sobre o artesanato, através do material e como é feito, que a pessoa tinha uma importância social, pois era usado por pessoas ricas. Também nas urnas são apresentados para além de deuses e animais, aparecem maioritariamente sacerdotes e governantes, existindo ainda estelas que homenageiam os feitos de guerreiros.

Os plebeus constituiriam a maioria dos habitantes, estando obrigados a pagar tributos aos nobres e sacerdotes, existindo ainda escravos que pagavam o seu tributo com trabalho. O cargo de príncipe devia ser ocupado por guerreiros e comandantes militares a julgar pela importância dada às proezas militares nas crónicas e lendas dos zapotecas. As guerras tinham como objectivo na maioria das vezes não a conquista de terras mas a captura de guerreiros que eram depois sacrificados, sendo que quanto mais importante o prisioneiro mas valioso o seu sangue, honrando assim os deuses.
Relativamente à produção de alimentos, era praticada a agricultura, existindo um sistema de rega com socalcos e canalização. A irrigação foi estendida no período clássico a terras mais secas do vale, o que tornou possível o assentamento de uma população considerável. Monte Alban não chegou a ser uma metrópole muito importante do ponto de vista económico. A cidade surge como uma capital política e centro religiosa, como um centro destinado preferencialmente a coordenar as actividades de assentamentos menores, a organiza-los militarmente e a controlar o comércio e contactos diplomáticos. A área de abastecimento encontra-se fora da zona urbana sendo as áreas de trabalho na cidade escassas.

Monte Alban recebeu uma grande influência de Teotihuacan, observada não só pela forma de construção mas também na cerâmica, na decoração das tumbas, e mesmo no panteão dos deuses. Esta influência indica a existência de contactos comerciais. A cultura Zapoteca foi assim, tal como practicamente todas as culturas mesoamericanas, não num ambiente exclusivamente local, mas sim resultado da influencia de outras grandes tradições. A hegemonia da cidade estendeu-se para fora do Vale, até à serra, a região do sul Zapoteca, o Vale Noxitlá, chegando ao norte e ao istmo de Tehuantepec.

As actividades artesanais ganham importância, trabalhos como os de ceramistas, trabalhadores de obsidiana, e outros objectos líticos, ocupam uma percentagem muito importante da população. Os artesãos estavam dispersos por todo o Vale de Oaxaca, não estando a produção centralizada. A cerâmica é das mais numerosas na América Central, inicialmente de influência Teotihuacana, Olmeca e Maia, esta é posteriormente desprezada por uma confecção de urnas Zapotecas. A incisão era a técnica decorativa mais utilizada, com desenhos que representavam as correntes de água. É também encontrada cerâmica obtida por comércio.

Um objecto muito característico de Monte Alban são as elaboradas urnas funerárias. De forma cilíndrica, e feitas de barro, apresentam figuras que representam divindades, personagens de elevada posição, um guerreiro, sacerdote ou animais sacralizados como o morcego ou jaguar. Entre os artesãos que se dedicavam à elaboração das urnas havia sempre uma grande competição para elaborar as melhores, pelo que estas eram todas diferentes e produto de diversas técnicas de moldagem, moldado e aplicado. Também o barro utilizado, os traços de cor e a composição dos diferentes elementos formais da peça, combinados com os complexos atributos dos deuses que deviam incluir-se nos limitados espaços destes finos objectos, vão influenciar a qualidade das urnas. Quando terminavam de moldar uma urna, esta era cuidadosamente secada ao sol, e uma vez bem seca os aprendizes iriam poli-la com polidores de pedra, a peça era depois brunida (polida para dar brilho) com pedaços de camurça. Contudo nesta etapa podiam fazer-se alguns traços. Por último, a acção de cozer a peça era levada a cabo por um forno previamente aquecido com lenha, muito bem tapado com a finalidade de obter uma cor cinzenta. O espalhar de cinábrio, pó vermelho, nas urnas era uma tarefa realizada pelo sacerdote que levava a cabo o ritual mortuário do defunto.



Como avanços científicos, temos a escrita hieroglífica zapoteca, elementos fonéticos, escrita para o cálculo do tempo e calendário. De facto pensasse que o calendário Zapoteca será o mais antigo da Mesoamérica, sendo ligeiramente diferente dos outros. Este consistia em 260 dias divididos em quatro períodos de 65 dias cada. A este período de 65 dias designa-se de Cocijo, deus muito venerado ao qual se faziam oferendas e se derramava sangue em sua honra. Cada Cocijo estava dividido em cinco meses de 13 dias, tendo cada um seu nome. Este servia para controlar o universo Zapoteca, utilizado para prever o futuro, sendo que tanto os deuses controlavam o tempo e acontecimentos, como esse tempo e acontecimentos eram considerados tributos aos deuses. Estes possuíam ainda um conhecimento astronómico desenvolvido, observado na existência do observatório anteriormente descrito.


A religião Zapoteca era utilizada pelas classes mais altas da cidade para impor a posição da elite hereditária em relação aos restantes segmentos sociais que constituíam a sociedade, transmitindo através dos palácios, grandes pirâmides monumentos esculpidos e os registos dinástico, a mensagem de desigualdade social. Muito representativas da cultura Zapotecas são as urnas funerárias e os morais encontrados nas tumbas, nos quais podemos identificar a existência de várias divindades. O deus principal dos zapotecas, o Xipe Totec, cujo culto permanece até à chegada dos espanhóis, está ligado à regeneração da terra, e à fertilidade. A este deus fazia-se um sacrifício onde se retirava a pele do morto que ia cobrir o sacerdote. A sua imagem de marca é este representado com uma cabeça numa mão e uma bengala de osso na outra. Encontram-se também representações de Cocijo associado às chuvas, tormentas, este possui adornos nas orelhas, língua bífida (Y), e carrega uma vasilha com milho, sendo representado a maioria das vezes associado ao Jaguar. Também há um conjunto de deuses com características de serpente incluindo Quetzalcóatl, deus do vento, e que demonstra as influências de Teotihuacan. A religião reflectia uma visão do mundo que tinha em conta o homem, a sociedade e as forças da natureza, que integravam um sistema sobrenatural, funcionando para aumentar a solidariedade e limpar as constantes crises da vida quotidiana.
Crenças das sociedades Mesoamericanas

A cultura mexicana actual conserva certas características das culturas pré-hispânicas como a grande devoção e importância dada à morte, manifestada na sua própria conduta social em que estes tanto choram a morte e perda do ente querido, como a comemoram através de grandes celebrações.

As sociedades mesoamericanas têm uma visão circular dinâmica do tempo na qual existe uma ideia de fim como retorno às origens, "em que a concepção da origem e destino do homem se dá a partir de um vinculo de conexão permanente entre o passado ou origem das coisas e o futuro das mesmas e onde o presente não é mais do que um cenário desde o qual se recriam os elementos inalteráveis de esse ciclo permanente." (ROQUET, páginas 81 e 82)

Daí surge a ideia da indestrutibilidade da força vital, que subsiste para além da morte, esta concepção demonstra um conceito de morte que não é o de morte como o fim, estas era vista como um ponto de renovação, conceito de morte como renascimento, uma parte de um ciclo vital.

Também no pensamento indígena mesoamericano se desenvolve uma percepção dinâmica da dimensão do cosmos em que a vida e morte são pontos opostos que se antecedem não existindo um sem o outro.

"Para compreender melhor o sentido da cosmovisão mítico religiosa dos povos mesoamericanos e a ideia da morte como renascimento, é necessário conceptualizar toda ideia de dinamismo temporal e espacial referida anteriormente, debaixo de uma perspectiva de noção de dualidade que encerra em si mesmo um sentido permanente de confrontação e aproximação e que constitui o princípio reactor do desenrolar existencial dos povos do México pré-hispânico, conceito que se conserva inclusive dentro de muitas das comunidades indígenas do México contemporâneo." (ROQUET, página 92)

A ideia de dualidade assenta no princípio de unidade em que dois elementos se complementam, sendo que as culturas mesoamericanas observavam esta concepção mediante a observação dos vários fenómenos naturais.

Esta concepção é visível no calendário e culto aos deuses, onde temos a agricultura ligada a vida sendo a dualidade visível na existência de períodos de chuva, fertilidade das terras e cultivo se seguiam períodos em que a chuva cessava e o cultivo de detinha, para posteriormente se iniciar uma nova temporada de chuva e fertilidade, e a guerra como expressão da morte em que a esta se dava para a captura de inimigos que eram posteriormente sacrificados aos deuses, como tributo.

Não podemos contudo cair no erro de pensar que não existia um temor da morte por parte destas sociedades, o que acontecia é que prevalecia na sua mentalidade um temor e incerteza perante a vida e o facto de verem a morte como um acto tributário, mediante o qual o homem se oferenda aos deuses, como agradecimento ao sacrifício que estes fizeram para criar o mundo e a vida, dando o homem com a morte permanência de um ciclo de revitalidade, uma ordem e ritmo vitais, sendo que estes têm até como preocupação não a forma de viver mas a forma de morrer. Estes acreditavam que o destino final do espírito de um individuo estaria pré-estabelecido não pela conduta terrestre mas pela forma como este morriam, ou seja por vontade divina. Nestes não havia portanto o conceito de inferno mas de um “mais além” aberto até aos pecadores.


A morte tinha de tal maneira um significado importante para os mesoamericanos que a profanação era um acto que em época pré-hispânica não tinha a intenção de saque ou roubo. Este acto implicava a destruição moral de uma sociedade visto os restos mortais serem reconhecidos como símbolos representativos da presença das raízes e identidade de uma sociedade. A ponto de que por vezes, quando as populações se moviam, desenterravam os seus cadáveres e levando-os consigo. 
Rituais e cerimónias funerárias

O mito constituía, para os povos do México pré-hispânico o sustento ideológico que constituía a razão do ser na existência indígena. Assim sendo, o ritual, que funcionava como recriação do mito, constituía uma constante em cada acto do ciclo de vida do homem mesoamericano, demonstrando o seu vínculo com o sagrado. De acordo com isto as várias etapas da vida de um individuo, como a gestação, o parto, a infância, o matrimónio, a velhice e morte, tinham cada uma delas um sentido propiciatório de culto à natureza e aos deuses, através do ritual, realizado em templos, grandes praças ou nas próprias casas.

Como já foi referido no capítulo anterior a morte para os indígenas era vista como apenas um passo no trânsito dinâmico da permanente renovação, e por isso manter a seu favor os deuses que regulam dito ciclo constituía uma questão de vital importância. Também de grande importância era o culto aos antepassados. Esperando “perpetuar a conservação e honor do bom destino dos restos do defunto, tivesse este sido enterrado ou cremado” (TESE, página 131), os mesoamericanos realizavam rituais de veneração dos mortos, por exemplo, através da colocação de oferendas de flores no local onde este havia sido sepultado.

O jogo da bola é uma manifestação constante nas culturas mesoamericana. Este não era um acto recreativo mas sim um complexo ritual no qual tanto se expressava o mundo real, quanto ao acto de jogar, lutar e morrer, como o mítico quando ao significado simbólico dos elementos que representavam divindades e planos metafísicos, devendo ambos os conceitos ser preservados a fim de garantir a vida dos deuses e com isto a permanência do ciclo de vida. Este ritual era como que uma busca de unidade, a partir do conceito de dualidade, no qual forças opostas lutavam pela manutenção do equilíbrio, e a permanência do ciclo vital. Neste busca-se a permanência da vida através da morte, recriando o princípio de morte-renascimento presente na manifestação de um ritual de ascensão ao poder mediante o sacrifício que se opõe aos rituais propiciatórios da fertilidade. O jogo da bola é como que um confronto em que os jogadores se convertem em guerreiros que se sublimam através do sacrifício (alegoria a uma guerra). O elemento representante da vida era a bola, feita de látex ou hule, o látex associa-se a líquidos vitais como água, sangue e sémen, e consequentemente, a vida. A disputa pela bola recriava assim o ritual de vida - morte - renascimento. Este era jogado num espaço rectangular limitado por duas estruturas paralelas em forma de talude ou paredes inclinadas, no sentido longitudinal. As duas dimensões e formatos são variados.


“O jogo da bola reflecte também o céu; os anéis representam os lugares de onde nasce e se poe o sol. O ponto o marca que assinala o centro do campo de jogo simboliza o lugar do céu onde o sol se sacrifica diariamente à lua ou às estrelas; este é chamado itzompan (lugar de crânios), já que frequentemente era representado por uma caveira. A linha central que divide o campo de jogo equivale ao limite que separa as forças opostas em conflito, a luz e a escuridão.” (ROQUET, página 150)
Modos de Enterramento

Tal como a alma do falecido, também os restos mortais possuíam várias opções de destino que dependiam, neste caso, da condição social da pessoa falecida como das circunstâncias em que esta tivesse morrido. A maioria dos enterramentos eram realizados “no interior das vivendas perto da casa ou dos celeiros, como no centro “del solar” ou na parcela que conforma os conjuntos de espaços habitacionais.” (ROQUET, p. 156) As fossas eram geralmente de forma alargada e profundidade variável, com os extremos arredondados em algumas ocasiões e sem nenhum tipo de tratamento. Segundo Roberto Garcia Moll: “(…) os mortos eram envoltos com petates ou têxteis de acordo com a sua condição social em posição estendida e em geral enterrados com os braços colocados ao lado do tórax ou entre cruzados. Noutras ocasiões enterrava-se numa posição sentada.” (ROQUET, P. 156)

Do ritual faz parte a preparação do cadáver, no qual era colocada uma pedra na boca, esta de acordo com o estatuto da pessoa, podia ser de jade se a pessoa fosse importante, ou obsidiana, se a pessoa era do povo. A pedra tinha como função retribuir ao morto o seu coração que tinha sido previamente retirado, garantindo a presença ou a vida da sua alma no trajecto ao seu novo destino. Em certos casos era ainda colocada uma máscara funerária. Enquanto o defunto era preparado e envolto em mantas e papel, era-lhe dedicado um discurso por um ancião, sendo-lhe dito os locais onde este deveria passar na sua viagem ao Mictlán, e oferendas. Entre as oferendas são encontrados “objectos pessoais, tais como colares de contas, artefactos talhados em sílex e obsidiana, osso ou chifre, adornos de conchas, vasos de tamanho pequeno e alguma figura de barro” (ROQUET, p. 159), assim como cães que eram como que guias na perigosa viagem que agora se iniciava. Eram ainda proporcionados ao morto alimentos para garantir o seu sustento na passagem pelos diversos locais que conduziam a sua alma ao “mais além”.

Estas características estão relacionadas com enterramentos do tipo doméstico, contudo, mesmo não tendo o caracter de uma “cerimónia ritual complexa, como corresponderia um enterramento de caracter tributário ou dedicado a uma divindade ou personagem importante, guardava contudo, em si mesmo, um sentido de oblação ao considerar os restos mortuários como gérmen ou semente de uma nova vida que ao ser depositado no terreno fértil da vivenda, garantiam a procriação e com isto a permanência da linhagem” (ROQUET, p. 158)

O ritual de cremação, também realizado, estava mais relacionada com a celebração de datas significativas, como o fogo novo, ou em funerais de pessoas importantes. As cinzas eram posteriormente colocadas num pote de barro que era enterrado.

A grande variedade de tipos de enterramentos na Mesoamérica “responde a uma diferenciação social mais do que a outros aspectos do desenvolvimento cultural, as práticas funerárias dão-nos a possibilidade de conhecer o papel que teve a morte no controlo do poder e o papel que desempenharam os membros da elite num sistema político fortemente centralizado.” (ROQUET, p. 164)

Teotihuacan
Sendo uma grande metrópole em Teotihuacan existiam diferentes maneiras de tratar os seus mortos, o que resultou num complexo sistema mortuário, com vários tipo de rituais e enterramentos, estes de vital importância. Teotihuacan pertence à região do Altiplano Central, região na qual se verifica desde tempos remotos a presença de enterramentos com oferendas.

Em Teotihuacan predominava a inumação posição flexionada, geralmente sentados, e virados para este, sendo que os enterramentos podiam ser em simples, ou elaboradas fossas, tipo de enterramento predominante no âmbito das características que já foram a cima referidas, ou em tumbas, no interior dos altares e em urnas funerárias e que também se efectuava a cremação em alguns sectores da cidade. Os enterramentos em fossa eram geralmente individuais, existindo no entanto casos em que se depositavam dois ou três cadáveres, com indícios de inumação simultânea.

Como oferendas encontramos bonecas (que simbolizavam a ressurreição, com os membros unidos ao tronco por um fio), vasos alaranjados que contiveram alimentos, assim como facas, conchas (que representam o coração), o cão guia, e outros objectos como braseiros. É de notar ainda que nem sempre se encontram os mesmo objectos, sendo que tal como os rituais variam também os objectos presentes, podendo encontrar-se uns e não outros, ou uns em maior quantidade e outros em menor.

Uma característica própria da zona do altiplano central “é a presença de enterramentos radiais de caracter propiciatório ao redor dos templos e adoratórios. Estes enterramentos estão associados à ideia de sacrifícios de crianças, que por sua vez está relacionado com os rituais de fertilidade.” (ROQUET, p. 187) Contudo, estes enterramentos realizaram-se, não por um suposto costume de sacrificar crianças, mas sim através do aproveitamento de corpos dos recém-nascidos falecidos, vitimas da elevada taxa de mortalidade infantil.

Em Teotihuacan, que se destaca nesta zona pelo seu caracter funerário, é importante recordar a Pirâmide do Sol, grande adoratório, construído sobre um sistema de cavernas. Estas, segundo as investigações de Doris Heyden, constituem a origem do local e da construção do grande conjunto que conforma o grande centro cerimonial. També de acordo com Heyden o sentido original do local, que se tornou o centro religioso do mundo mesoamericano, o “local onde se reúnem os deuses”, estaria relacionado com o significado das cavernas como útero materno, no qual está presente um caracter dual do local como espaço de morte e nascimento do ser.

O facto é que no interior destas cavernas, se encontram “numerosos restos de crianças supostamente sacrificadas ao deus da chuva num ritual de fertilidade, assim como de urnas funerárias.” (ROQUET, p. 188) Isto, juntamente com a descoberta realizada pelo arqueólogo Leopoldo Batres, na primeira década do século XX, que encontrou restos de crianças nas extremidades de cada um dos constituintes que compõem as plataformas sobrepostas da pirâmide, evidencia o caracter sepulcral que teve o local desde a sua.

Em Teotihuacan foram encontradas um elevado número de mascaras em pedra, sendo que era utilizada a ónix, diorito e a serpentina, combinadas com conchas, corais e obsidiana. Estas podiam ser colocadas sobre o rosto do morto ou no exterior do “bulto mortuário”, aspecto padrão constante para toda a Mesoamérica, o que se percebe se tivermos presente que Teotihuacan seria um importante centro religioso ao qual se deslocavam populações de quase todas as regiões da Mesoamérica para a celebração de grandes cerimónias religiosas e funerárias



Monte Alban
A grande importância dada pelos Zapotecas aos seus antepassados mais ilustres resultou numa grande produção artística relacionada com os rituais funerários. Junto ao seu caracter religioso e defensivo, o local apresenta uma grande importância funerário devido à série de tumbas existentes, que ultrapassam as 190, e se localizam tanto nas ladeiras da colina, na qual assenta o grande centro cerimonial, como nos pátios centrais dos conjuntos habitacionais, situados ao pé das montanhas, ou também dentro das habitações, no caso dos enterramentos mais simples.

Nos enterramentos mais simples, de caracter doméstico, verifica-se a existência de pequenas oferendas, imagens de divindades, assim como com os seus utensílios de trabalho, sendo um sacerdote encarregado da cerimónia. No que toca às tumbas localizadas em templos e palácios ou adoratórios, estas constituídas por antecâmara e camara subterrâneas, edificadas à base de paredes de pedra com tectos segurados, numa primeira etapa, por lajes planas apoiadas sobre os muros laterais, tal como caixões, técnica que posteriormente mudaria para tectos angulares gerados a partir do apoio de duas lápides que conformavam uma espécie de abóbada triangular.

O complexo sistema de tumbas existente destaca-se pelas suas dimensões, crendo-se que estas sepulturas pertenceriam a personagens relevantes da comunidade. A elite era enterrada com as suas melhores roupas, jóias e emblemas da sua linhagem. Um sacerdote estava também encarregue destas cerimónias, sendo acompanhado dos seus parentes, pessoas em luto e população. A oferenda era distribuída pela camara mortuária e antecâmara, e consistia em vasos de argila para água e comida, assim como espólio em ouro. As cerimónias durariam toda a noite, sendo por vezes sacrificados escravos que se encarregariam de continuar a atender ao morto na outra vida.

Nestas paredes encontram-se ricas pinturas murais, frescos onde se denota a influência dos murais de Teotihuacan, assim como nichos destinados a receber tanto oferendas como urnas funerárias, anteriormente descritas. Estas, decoradas com esfinge dos seus deuses ou de seres humanos sentados, eram colocadas nas camaras e antecâmaras como invocação de protecção divina. Estas eram os objectos centrais da oferenda, juntamente com os restantes utensílios, para que não faltasse protecção divina, alimento e água. Para além de protecção as representações de divindades nestas peças estavam destinados a acompanhar e a conduzir os mortos para protege-los tanto na sua viagem ao inframundo como na sua vida eterna. Parecem também representações de cenas da vida quotidiana e cerimónias rituais.

Relativamente às pinturas, também muito características da arquitectura sepulcral da zona de Oaxaca, os murais policromados eram conjugados com relevos igualmente abundantes. Nestes destacam-se os personagens representados no interior da tumba que estavam direccionadas à entrada numa atitude simbólica de vigilância ou assinalamento do ponto através qual se acede ao espaço sacralizado.




A importância funerária de Monte Alban difundiu-se mundialmente após a descoberta da tumba número 7, por Afonso Caso em 1932, e no interior da qual se encontrava um rico tesouro constituído por numerosas contas de ouro, jade, braceletes de ouro e prata, um crânio decorado com um mosaico de turquesas, assim como peças de turquesa que pertenceria a mosaicos que decorariam as paredes. Foram também encontradas máscaras de ouro, jade, obsidiana, âmbar, e mais de três mil perolas, entre outras peças. Contudo Afonso Caso não descobriu apenas um rico tesouro, mas sim uma evidência da evolução histórica do local. Ora este concluiu que a tumba teria sido originalmente construída pelos Zapotecas, sendo posteriormente preenchida para a construção de um templo sobre a mesma, cujo peso resultou no seu derrubamento, sendo posteriormente reutilizada pelos Mixtecas, acumulando assim a tumba numero 7 uma enorme acervo cultural Zapoteca e Mixteca.


Bibliografia:


ROQUET, G. B. (2006) – La arquitectura sepulcral en la reigión del Golfo de México. Madrid. Tese de Doutoramento apresentada à Universidad Politecnica de Madrid (Policopiada).