quinta-feira, 30 de maio de 2013

Monte Alban

Situada numa zona onde o meio ambiente estabeleceu parâmetros para o desenvolvimento da cidade, Monte Alban foi, durante quase 1300 anos, o maior centro político, económico e cultural, a sede de poder dominante, da região do vale. A cidade localiza-se no Vale de Oaxaca, a 10 km a oeste da actual cidade de Oaxaca de Juáres, capital do estado mexicano com o mesmo nome. A sua localização permite o controlo de todo o vale. Em 1987 foi declarada Património Cultural da Humanidade pela Unesco.

Esta era conhecida pelos Zapotecas pelo nome de Danipaguache (montanha sagrada da vida), e posteriormente pelos Astecas por Ocelotepec (montanha do jaguar).




Evolução da cidade
Esta cidade foi fundada pelos Zapotecas em cerca de 600 a.C.. O que acontece é que nesta altura três grandes aldeias dominavam o vale, estas fizeram então uma aliança para construir o centro cerimonial de monte Alban e povoar a sua periferia, aplanando a zona. Esta foi posteriormente dividida em três bairros que corresponderiam a cada uma das aldeias.

A sua história é geralmente dividida em várias fases:
No período designado de Monte Alban I, que vai de 600 a.C. a 100 a.C., dá-se o nivelamento do topo da montanha, onde se iria localizar a parte superior da cidade e da praça principal. É neste período que se dá também a queda e apogeu da civilização Olmeca, cuja influência está presente nas construções mais antigas de Monte Alban. Nesta época é construído o edifício dos dançantes, cujas figuras que se encontram ao redor do qual, e que parecem ser de prisioneiros de guerra, têm influência Olmeca sendo representados com lábios grossos e olhos rasgados, e com capacetes que remontam para guerreiros. Também construção da estrutura para a realização do jogo da bola se iniciou nesta época. Com o aumento da população pensasse que por volta de 200 a.C. teria cerca de 5.000 habitantes.

Á fase entre 100 a.C. e 250 d.C., dá-se o nome de Monte Alban II. Neste período contínua a nivelação da praça principal, sendo que vários achados demonstram a existência de contactos com os Maias de Chiapas e Guatemala, e dá-se a construção do edifício J, que se pensa ser um observatório astronómico. Neste é demonstrada a intensa actividade militar, estando o edifício decorado com representações das conquistas militares, no qual aparece uma escrita com o símbolo de cada uma das cidades conquistadas.

Os 550 anos seguintes, até 800 d.C. designam-se de Monte Alban III. Este é o período de auge, actuando como Monte Alban um centro de integração do poder político e económico acompanhando Teotihuacan e construindo-se a maioria dos edifícios hoje encontrados. Pensa-se que a população terá atingindo uma população de cerca de 40 mil habitantes nos cerca de 20km2 perto do centro cerimonial, sendo que entre 250 d.C. e 600 d.C. notam-se influências de Teotihuacan, nas cerâmicas, decorações, túmulos e construção (talude-tabuleiro). Mais de 180 tumbas deste período foram localizadas nas encostas da grande colina de Monte Alban. Neste período desenvolve-se a parte norte da cidade, construída sobre uma plataforma, a plataforma norte.

A partir de 800 d.C. dá-se a queda gradual da cidade Zapoteca, assim como deslocamentos populacionais, sendo que a diminuição da população resultou num término da construção de edifícios monumentais. As causas do seu declínio são desconhecidas. Este período de Monte Alban IV vai durar até 1325, terminando com a chegada dos Mixtecas, que ocupam a capital. Com a queda de Monte Alban, vai dar-se o fortalecimento de certas cidades, assim como o surgimento de outras. Esta manteve-se, no entanto, com uma certa autonomia através da criação de alianças matrimoniais e actividade comercial. Mitla, a capital Mixteca, consolidou-se como centro religioso do Vale.

Em 1325 inicia-se o período de Monte Albán V, com a chegada dos Mixtecas que realizaram enterramentos em Monte Albán. Este vai durar até 1521, ano e que se dá a chegada dos conquistadores espanhóis e Monte Alban é definitivamente abandonada.



Descrição da cidade



A sua arquitectura monumental foi influenciada pelos primeiros centros urbanos dos vales centrais de Oaxaca, como San José Mogote e Dainzú, especialmente a primeira que também se organizava ao redor de uma praça central. Contudo ao contrário de San José Mogote, cujas plataformas dos edifícios eram constituídas por um só corpo, as de Monte Alban, de influência Teotihuacana, eram construídas através da sobreposição de vários corpos, as já referidas construções em talude-tabuleiro. Este tipo de construção adoptado pelos zapotecas foi adaptado dando lugar a um estilo próprio da cidade de Monte Alban, com taludes amplificados, rematados por pequenos tabuleiros.

Desenhada sobre o plano trabalhado da montanha, 400 m sobre o nível do vale, o conjunto monumental (templos e residências das elites) de Monte Alban encontra-se organizado ao redor de uma praça central com cerca de 200 por 300 metros, orientada no sentido norte-sul, enquanto as habitações de pessoas pertencentes a estratos sociais mais baixos se localizavam em terraços construídos fora do conjunto central localizado na parte mais alta da montanha, padrão de assentamento muito característicos das sociedades mesoamericanas pré-colombianas do período clássico (c. II a VIII/IX d.C.). A este e oeste da praça localizam-se os templos cerimoniais, e a norte-sul o complexo da plataforma sul e a plataforma norte, que parece ter sido o local mais importante do ponto de vista cerimonial. A localização da praça no topo do monte sugere uma estratégia defensiva, um muro de aproximadamente 2.5km foi levantado los limites norte, nordeste e noroeste da cidade possivelmente devido a conflitos. Os numerosos tuneis encontrados sob a praça principal conduzem alguns de uma extremidade de um edifício à outra, enquanto outros atravessam toda a praça principal. Os templos foram construídos em adobe sobre cimento de pedra, sendo a pintura aplicada sobre o estuque que cobria as paredes. Ao contrário de outros núcleos urbanos mesoamericanos Monte Alban possui edificações mais baixas, com fortes taludes, talvez devido à alta sismicidade dos Vales centrais de Oaxaca.
Ao centro da grande praça, encontram-se as estruturas G, H, I e J. Esta servia possivelmente para actividades cívicas, religiosas e cerimoniais, e ainda como centro de intercâmbio na qual se instalavam mercados de troca com zonas vizinhas e cheias com produtos da sua região. Contudo na cidade existiam poucas oficinas, sendo que os artesãos estavam dispersos por todo o vale, a produção não estava centralizada.

As quatro estruturas referidas são de várias épocas construtivas e apresentam dois estilos arquitectónicos diferentes. Estas quatro construções cobrem saliências naturais das rochas. As três primeiras, G, H e I, são constituídas por um só edifício que contém três plataformas com templos separados mas ligados entre si. O edifício J, chamado de "observatório", localiza-se na porção sul-central da grande praça, sendo o único com planta pentagonal, e orientação diferente das restantes (em vez de norte-sul, desvia-se para o oriente, de onde se observam 5 principais estrelas). Pensasse que se tratará de um observatório pela sua orientação e por ser parecido com o edifico P, contudo não há certezas. As lápides deste edifício encontram-se marcadas por hieróglifos que fazem referência a zonas conquistadas por Monte Alban. Cada edifício na cidade tem muros que circundam um pátio, e cada pátio um altar ou adoratório.
A plataforma sul, construída sobre uma protuberância natural, tem uma planta quadrada com 140 metros de lado, e possuía estelas nas suas esquinas, actualmente no museu do sítio. Nas estelas estão representações de homens com os pés e braços amarrados nas costas e são conhecidos como "os cativos", sendo que pode tratar-se de representações de prisioneiros. Desde a plataforma sul tem-se uma panorâmica dos vales de Monte Alban.
De destacar é o edifício L, designado de o edifício “dos Dançantes”. Este é um dos primeiros a ser construído dando informação sobre a história da cidade. É das estruturas que exibe mais actividade construtiva, apesar do seu primeiro momento restarem apenas escassos restos de uma plataforma e escadas que apareceram no túnel de exploração coberto por este edifício. O seu nome foi-lhe dado pelas 140 lápides que se encontram ao redor do edifício. Nestas estão representadas figuras que parecem movimentar-se como que dançando. Contudo das várias teorias existentes sobre o que representariam estas figuras, a mais provável parece ser que se tratariam, não de personagens dançando, mas sim de cativos mutilados e feridos. Talvez vítimas, prisioneiros de guerra (guerras pelo domínio do território) num ritual em que lhes cortam o pénis e cujo sangue era no chão despejado como oferenda aos deuses simbolizando a fertilidade. As representações têm influência Olmeca sendo representados com lábios grossos e olhos rasgados, e com capacetes que remontam para guerreiros (hierarquia da personagem representada). De planta rectangular, mede 60 metros de largura por 30 de comprimento, tendo cerca de 9 metro de altura. Sobre a plataforma existem três templos. O templo central de planta quadrada possui um pátio limitado por quatro aposentos. Os templos laterais são de menores dimensões e constam de um só quarto dividido em dois por um muro.



O edifício S, ou Palácio, é uma das várias residências pertencentes à nobreza. Este é um espaço fechado rodeado por habitações com vestíbulo e um pátio central aberto, padrão de distribuição que se generalizou em toda a cidade. No centro encontra-se um altar cerimonial, provavelmente para cerimónias privadas.

Na esquina nordeste da praça, com uma orientação norte-sul, localiza-se o campo de jogo da bola. Em Monte Alban encontram-se duas estruturas utilizadas para o Jogo da Bola, a maior e outra de menores dimensões. Relativamente à estrutura maior, a sua área central é limitada por muros de talude (ligeiramente inclinados), sendo que os muros estariam revestidos com estuque. Nesses mesmos muros levantavam-se as plataformas a partir das quais se visionava o jogo. O que observamos actualmente é resultado de sobreposições de diversos momentos construtivos, o mais antigo do período de Monte Alban II. Este possui a forma de um I, tendo o pátio central 26 metros de comprimento por 7 de largura. Os topos tinham 22 metros de largura.
Em Oaxaca as estruturas de Jogo da bola não apresentam marcadores ou arcos de pedra nos seus muros laterais. No centro da do pátio central há uma pedra circular e plana provavelmente para colocar a bola no início do jogo. O sistema construtivo foi conseguido com base num núcleo de pedra e barro revestido com pedra de forma regular e aplanada exteriormente com uma grossa capa de mistura de cal.

No que toca à plataforma norte, esta foi construída posteriormente, e a esta apenas teria acesso a elite, na qual construíram possíveis palácios onde estariam os governares e sacerdotes da cidade, e onde realizariam sacrifícios e oferendas rituais.

Fora dos limites da cidade, nas encostas das colinas, localizam-se os terraços residenciais que sustiveram casas de carácter perecível. As unidades habitacionais, albergava entre uma e três vivendas organizadas, em termos gerais, ao redor de um pátio central.

Características da sociedade
Na época pré-colombiana os zapotecas foram uma das civilizações mais importantes da Mesoamérica. Estes designavam-se a si mesmo de be’neza, que significa “povo que vem das nuvens”. Pouco se sabe da sua origem.
Pensasse que a sociedade Zapoteca seria uma sociedade teocrática, algo que é em parte perceptível pela hierarquia existente em túmulos e edifícios. Os sacerdotes dominariam e controlavam inclusive os guerreiros, sendo contudo possível que, em certo momento, estes sacerdotes teriam sido guerreiros.

Objectos como o peitoral do deus morcego que tinha um sentido simbólico de ostentação, permitindo saber, para além de informação sobre o artesanato, através do material e como é feito, que a pessoa tinha uma importância social, pois era usado por pessoas ricas. Também nas urnas são apresentados para além de deuses e animais, aparecem maioritariamente sacerdotes e governantes, existindo ainda estelas que homenageiam os feitos de guerreiros.

Os plebeus constituiriam a maioria dos habitantes, estando obrigados a pagar tributos aos nobres e sacerdotes, existindo ainda escravos que pagavam o seu tributo com trabalho. O cargo de príncipe devia ser ocupado por guerreiros e comandantes militares a julgar pela importância dada às proezas militares nas crónicas e lendas dos zapotecas. As guerras tinham como objectivo na maioria das vezes não a conquista de terras mas a captura de guerreiros que eram depois sacrificados, sendo que quanto mais importante o prisioneiro mas valioso o seu sangue, honrando assim os deuses.
Relativamente à produção de alimentos, era praticada a agricultura, existindo um sistema de rega com socalcos e canalização. A irrigação foi estendida no período clássico a terras mais secas do vale, o que tornou possível o assentamento de uma população considerável. Monte Alban não chegou a ser uma metrópole muito importante do ponto de vista económico. A cidade surge como uma capital política e centro religiosa, como um centro destinado preferencialmente a coordenar as actividades de assentamentos menores, a organiza-los militarmente e a controlar o comércio e contactos diplomáticos. A área de abastecimento encontra-se fora da zona urbana sendo as áreas de trabalho na cidade escassas.

Monte Alban recebeu uma grande influência de Teotihuacan, observada não só pela forma de construção mas também na cerâmica, na decoração das tumbas, e mesmo no panteão dos deuses. Esta influência indica a existência de contactos comerciais. A cultura Zapoteca foi assim, tal como practicamente todas as culturas mesoamericanas, não num ambiente exclusivamente local, mas sim resultado da influencia de outras grandes tradições. A hegemonia da cidade estendeu-se para fora do Vale, até à serra, a região do sul Zapoteca, o Vale Noxitlá, chegando ao norte e ao istmo de Tehuantepec.

As actividades artesanais ganham importância, trabalhos como os de ceramistas, trabalhadores de obsidiana, e outros objectos líticos, ocupam uma percentagem muito importante da população. Os artesãos estavam dispersos por todo o Vale de Oaxaca, não estando a produção centralizada. A cerâmica é das mais numerosas na América Central, inicialmente de influência Teotihuacana, Olmeca e Maia, esta é posteriormente desprezada por uma confecção de urnas Zapotecas. A incisão era a técnica decorativa mais utilizada, com desenhos que representavam as correntes de água. É também encontrada cerâmica obtida por comércio.

Um objecto muito característico de Monte Alban são as elaboradas urnas funerárias. De forma cilíndrica, e feitas de barro, apresentam figuras que representam divindades, personagens de elevada posição, um guerreiro, sacerdote ou animais sacralizados como o morcego ou jaguar. Entre os artesãos que se dedicavam à elaboração das urnas havia sempre uma grande competição para elaborar as melhores, pelo que estas eram todas diferentes e produto de diversas técnicas de moldagem, moldado e aplicado. Também o barro utilizado, os traços de cor e a composição dos diferentes elementos formais da peça, combinados com os complexos atributos dos deuses que deviam incluir-se nos limitados espaços destes finos objectos, vão influenciar a qualidade das urnas. Quando terminavam de moldar uma urna, esta era cuidadosamente secada ao sol, e uma vez bem seca os aprendizes iriam poli-la com polidores de pedra, a peça era depois brunida (polida para dar brilho) com pedaços de camurça. Contudo nesta etapa podiam fazer-se alguns traços. Por último, a acção de cozer a peça era levada a cabo por um forno previamente aquecido com lenha, muito bem tapado com a finalidade de obter uma cor cinzenta. O espalhar de cinábrio, pó vermelho, nas urnas era uma tarefa realizada pelo sacerdote que levava a cabo o ritual mortuário do defunto.



Como avanços científicos, temos a escrita hieroglífica zapoteca, elementos fonéticos, escrita para o cálculo do tempo e calendário. De facto pensasse que o calendário Zapoteca será o mais antigo da Mesoamérica, sendo ligeiramente diferente dos outros. Este consistia em 260 dias divididos em quatro períodos de 65 dias cada. A este período de 65 dias designa-se de Cocijo, deus muito venerado ao qual se faziam oferendas e se derramava sangue em sua honra. Cada Cocijo estava dividido em cinco meses de 13 dias, tendo cada um seu nome. Este servia para controlar o universo Zapoteca, utilizado para prever o futuro, sendo que tanto os deuses controlavam o tempo e acontecimentos, como esse tempo e acontecimentos eram considerados tributos aos deuses. Estes possuíam ainda um conhecimento astronómico desenvolvido, observado na existência do observatório anteriormente descrito.


A religião Zapoteca era utilizada pelas classes mais altas da cidade para impor a posição da elite hereditária em relação aos restantes segmentos sociais que constituíam a sociedade, transmitindo através dos palácios, grandes pirâmides monumentos esculpidos e os registos dinástico, a mensagem de desigualdade social. Muito representativas da cultura Zapotecas são as urnas funerárias e os morais encontrados nas tumbas, nos quais podemos identificar a existência de várias divindades. O deus principal dos zapotecas, o Xipe Totec, cujo culto permanece até à chegada dos espanhóis, está ligado à regeneração da terra, e à fertilidade. A este deus fazia-se um sacrifício onde se retirava a pele do morto que ia cobrir o sacerdote. A sua imagem de marca é este representado com uma cabeça numa mão e uma bengala de osso na outra. Encontram-se também representações de Cocijo associado às chuvas, tormentas, este possui adornos nas orelhas, língua bífida (Y), e carrega uma vasilha com milho, sendo representado a maioria das vezes associado ao Jaguar. Também há um conjunto de deuses com características de serpente incluindo Quetzalcóatl, deus do vento, e que demonstra as influências de Teotihuacan. A religião reflectia uma visão do mundo que tinha em conta o homem, a sociedade e as forças da natureza, que integravam um sistema sobrenatural, funcionando para aumentar a solidariedade e limpar as constantes crises da vida quotidiana.

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