Crenças das sociedades Mesoamericanas
A
cultura mexicana actual conserva certas características das culturas
pré-hispânicas como a grande devoção e importância dada à morte, manifestada na
sua própria conduta social em que estes tanto choram a morte e perda do ente
querido, como a comemoram através de grandes celebrações.
As
sociedades mesoamericanas têm uma visão circular dinâmica do tempo na qual
existe uma ideia de fim como retorno às origens, "em que a concepção da origem
e destino do homem se dá a partir de um vinculo de conexão permanente entre o
passado ou origem das coisas e o futuro das mesmas e onde o presente não é mais
do que um cenário desde o qual se recriam os elementos inalteráveis de esse
ciclo permanente." (ROQUET, páginas 81 e 82)
Daí
surge a ideia da indestrutibilidade da força vital, que subsiste para além da
morte, esta concepção demonstra um conceito de morte que não é o de morte como
o fim, estas era vista como um ponto de renovação, conceito de morte como
renascimento, uma parte de um ciclo vital.
Também
no pensamento indígena mesoamericano se desenvolve uma percepção dinâmica da
dimensão do cosmos em que a vida e morte são pontos opostos que se antecedem
não existindo um sem o outro.
"Para
compreender melhor o sentido da cosmovisão mítico religiosa dos povos
mesoamericanos e a ideia da morte como renascimento, é necessário
conceptualizar toda ideia de dinamismo temporal e espacial referida
anteriormente, debaixo de uma perspectiva de noção de dualidade que encerra em
si mesmo um sentido permanente de confrontação e aproximação e que constitui o princípio
reactor do desenrolar existencial dos povos do México pré-hispânico, conceito
que se conserva inclusive dentro de muitas das comunidades indígenas do México
contemporâneo." (ROQUET, página 92)
A
ideia de dualidade assenta no princípio de unidade em que dois elementos se
complementam, sendo que as culturas mesoamericanas observavam esta concepção
mediante a observação dos vários fenómenos naturais.
Esta
concepção é visível no calendário e culto aos deuses, onde temos a agricultura
ligada a vida sendo a dualidade visível na existência de períodos de chuva,
fertilidade das terras e cultivo se seguiam períodos em que a chuva cessava e o
cultivo de detinha, para posteriormente se iniciar uma nova temporada de chuva
e fertilidade, e a guerra como expressão da morte em que a esta se dava para a
captura de inimigos que eram posteriormente sacrificados aos deuses, como
tributo.
Não
podemos contudo cair no erro de pensar que não existia um temor da morte por
parte destas sociedades, o que acontecia é que prevalecia na sua mentalidade um
temor e incerteza perante a vida e o facto de verem a morte como um acto
tributário, mediante o qual o homem se oferenda aos deuses, como agradecimento
ao sacrifício que estes fizeram para criar o mundo e a vida, dando o homem com
a morte permanência de um ciclo de revitalidade, uma ordem e ritmo vitais,
sendo que estes têm até como preocupação não a forma de viver mas a forma de
morrer. Estes acreditavam que o destino final do espírito de um individuo
estaria pré-estabelecido não pela conduta terrestre mas pela forma como este
morriam, ou seja por vontade divina. Nestes não havia portanto o conceito de
inferno mas de um “mais além” aberto até aos pecadores.
A
morte tinha de tal maneira um significado importante para os mesoamericanos que
a profanação era um acto que em época pré-hispânica não tinha a intenção de
saque ou roubo. Este acto implicava a destruição moral de uma sociedade visto
os restos mortais serem reconhecidos como símbolos representativos da presença
das raízes e identidade de uma sociedade. A ponto de que por vezes, quando as
populações se moviam, desenterravam os seus cadáveres e levando-os consigo.
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