quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crenças das sociedades Mesoamericanas

A cultura mexicana actual conserva certas características das culturas pré-hispânicas como a grande devoção e importância dada à morte, manifestada na sua própria conduta social em que estes tanto choram a morte e perda do ente querido, como a comemoram através de grandes celebrações.

As sociedades mesoamericanas têm uma visão circular dinâmica do tempo na qual existe uma ideia de fim como retorno às origens, "em que a concepção da origem e destino do homem se dá a partir de um vinculo de conexão permanente entre o passado ou origem das coisas e o futuro das mesmas e onde o presente não é mais do que um cenário desde o qual se recriam os elementos inalteráveis de esse ciclo permanente." (ROQUET, páginas 81 e 82)

Daí surge a ideia da indestrutibilidade da força vital, que subsiste para além da morte, esta concepção demonstra um conceito de morte que não é o de morte como o fim, estas era vista como um ponto de renovação, conceito de morte como renascimento, uma parte de um ciclo vital.

Também no pensamento indígena mesoamericano se desenvolve uma percepção dinâmica da dimensão do cosmos em que a vida e morte são pontos opostos que se antecedem não existindo um sem o outro.

"Para compreender melhor o sentido da cosmovisão mítico religiosa dos povos mesoamericanos e a ideia da morte como renascimento, é necessário conceptualizar toda ideia de dinamismo temporal e espacial referida anteriormente, debaixo de uma perspectiva de noção de dualidade que encerra em si mesmo um sentido permanente de confrontação e aproximação e que constitui o princípio reactor do desenrolar existencial dos povos do México pré-hispânico, conceito que se conserva inclusive dentro de muitas das comunidades indígenas do México contemporâneo." (ROQUET, página 92)

A ideia de dualidade assenta no princípio de unidade em que dois elementos se complementam, sendo que as culturas mesoamericanas observavam esta concepção mediante a observação dos vários fenómenos naturais.

Esta concepção é visível no calendário e culto aos deuses, onde temos a agricultura ligada a vida sendo a dualidade visível na existência de períodos de chuva, fertilidade das terras e cultivo se seguiam períodos em que a chuva cessava e o cultivo de detinha, para posteriormente se iniciar uma nova temporada de chuva e fertilidade, e a guerra como expressão da morte em que a esta se dava para a captura de inimigos que eram posteriormente sacrificados aos deuses, como tributo.

Não podemos contudo cair no erro de pensar que não existia um temor da morte por parte destas sociedades, o que acontecia é que prevalecia na sua mentalidade um temor e incerteza perante a vida e o facto de verem a morte como um acto tributário, mediante o qual o homem se oferenda aos deuses, como agradecimento ao sacrifício que estes fizeram para criar o mundo e a vida, dando o homem com a morte permanência de um ciclo de revitalidade, uma ordem e ritmo vitais, sendo que estes têm até como preocupação não a forma de viver mas a forma de morrer. Estes acreditavam que o destino final do espírito de um individuo estaria pré-estabelecido não pela conduta terrestre mas pela forma como este morriam, ou seja por vontade divina. Nestes não havia portanto o conceito de inferno mas de um “mais além” aberto até aos pecadores.


A morte tinha de tal maneira um significado importante para os mesoamericanos que a profanação era um acto que em época pré-hispânica não tinha a intenção de saque ou roubo. Este acto implicava a destruição moral de uma sociedade visto os restos mortais serem reconhecidos como símbolos representativos da presença das raízes e identidade de uma sociedade. A ponto de que por vezes, quando as populações se moviam, desenterravam os seus cadáveres e levando-os consigo. 

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